quinta-feira, 27 de agosto de 2009

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Espelhos.

O que você vê quando se olha no espelho? Sua imagem? As cores de suas roupas, de seu cabelo, de sua pele, de seus olhos? Vê como é bonita sua face, o quão belo é seu corpo? Enxerga a perfeição delineada em você?
(Eu?Vejo minha imagem sim. Deformada e sem cores; um mundo monocromático. Minhas roupas pretas, minha pele nojenta, meus olhos sem brilho algum. Perfeição? Sou o oposto da perfeição.)

O que você sente quando se olha no espelho? Vontade de sorrir? De se aproximar um pouco mais, para admirar melhor sua própria imagem? Sente orgulho do que vê?
(Lágrimas, lágrimas. Sinto vontade de chorar. De me afastar o máximo possível, de virar o rosto ou simplesmente fechar meus olhos para não precisar mais encarar tamanha aberração. Orgulho? Sinto o oposto do orgulho.)

O que você pensa quando se olha no espelho? O que diz a si mesmo ao olhar-se no espelho? Consegue fitar sua imagem, tocá-la, abrir um sorriso verdadeiro, satisfeito, e exclamar, "Você é lindo!"? Consegue?
(O que penso?Ah, pergunto-me como pode um ser tão horrendo assim existir. Não consigo permanecer na frente de um espelho por muito tempo, minhas mãos não se atrevem a tentar tocar minha imagem. Não sou capaz de sorrir para um espelho. Lindo? Sou o oposto do lindo.)

O que você enxerga quando se olha no espelho? Enxerga sua essência, seu verdadeiro "eu"? Sua identidade prima, bruta? Enxerga o quão especial você é, o quão amado é por todos? Vê o quão único e importante para o mundo você é?
(Vejo-me como sou, sim. Despido das máscaras cotidianas, dos sorrisos forçados, das gentilezas induzidas. Vejo, e é por isso que odeio tanto, tanto olhar-me no espelho. Minha essência é a frieza, é o arrependimento. É a tristeza, a angústia, o negativo. Não sou único e muito menos importante para o mundo. Na verdade, desconfio que o mundo seria um lugar melhor sem mim e pessoas como eu. Especial? Sou o oposto de especial.)

O que você diz a si mesmo quando se olha no espelho?
(Não digo. Não há tal coragem dentro de mim.)


O que você pensa quando se olha no espelho?
(Penso no repúdio, no monocromático, no anti-belo.)


O que você sente quando se olha no espelho?
(Sinto aversão, nojo.)


O que você vê quando se olha no espelho?

(Não vejo nada.)

domingo, 16 de agosto de 2009

Desabafo.

Se eu pudesse, passaria minha vida desenhando. Sem me preocupar com nada, sem me importar com o estresse e o caos da sociedade, sem se quer notar o passar do tempo. Sentada em lugares quaisquer, alheia ao resto do mundo, simplesmente passaria meus dias desenhando. Desenharia uma flor, um pássaro, o céu…Tudo aquilo que estivesse à minha volta e chamasse minha atenção.

Se eu pudesse, dedicaria minha vida à arte de demonstrar emoções. Registraria-as todas em pontos, linhas, cores e formas. Expressaria-as do único jeito que sei; já que as palavras nunca foram exatamente minhas amigas. E em cada traço, em cada pincelada, em cada marca de grafite no papel, deixaria transparecer tudo o que sinto; meus sentimentos, emoções, pensamentos, sensações. Abriria meu coração ao mundo, e compartilharia tudo o que não me é possível compartilhar, por não dominar as palavras, com todo e qualquer um que viesse a se interessar.

Se eu pudesse, viajaria o mundo inteiro, registrando no papel tudo o que reluzisse em meus olhos. Não apenas os tão grandiosos monumentos que todos já conhecem e prestigiam, não apenas peças de louça ou jóias repletas de elegância; mas também o dia-a-dia das pessoas, as construções mais modestas, os cenários que todos parecem se esquecer de admirar nos dias de hoje. Faria questão de registrar as coisas mínimas, as coisas que tão naturalmente passam despercebidas: um ninho de passarinho no alto de uma árvore, crianças brincando na rua, uma flor solitária e corajosa, tão cheia de garra que conseguiu brotar num espacinho qualquer entre o concreto das cidades, um arco-íris suave no céu, uma árvore repleta de flores, o nascer e o por-do-sol. Passaria para o papel a umidade das chuvas, o cheiro doce e tão característico da terra, o calor do Astro que nos é tão importante e, ao mesmo tempo, perigoso.

Se eu pudesse, comporia uma música através de meus desenhos. Uma música doce, suave, que transmitisse paz e alegria a quem a “escutasse”. E então, através dessa música, convidaria a todos para dançar; uma dança lenta, modesta, mas única e bela de seu próprio jeito.

Se eu pudesse, desenharia tudo o que me viesse à cabeça, até sentir-me satisfeita. E então, convidaria a todos para ‘ouvir’ uma história registrada com satisfação e o maior dos orgulhos em simples pedaços de papel.

Se eu pudesse, desenharia de todas as formas possíveis, com todos os materiais possíveis e em todas as superfícies possíveis. Expressaria-me em traços, em cores, tons, nuances. Em aquarela, giz pastel, crayon, lápis de cor, tinta acrílica, tinta à óleo, nos tons vibrantes da computação gráfica. Deixaria marcas em telas, folhas, muros, no chão, na areia, até na água e no ar, se houvesse um jeito.

Se eu pudesse, desenharia o mundo. Passaria todos os dias de minha vida alheia à tudo, apenas com materiais de desenho e meus olhos a observar meu objeto de inspiração. Viveria para desenhar e desenharia para viver.

Se eu pudesse, desenharia não para os outros, mas para mim. Desenharia até me sentir leve, completa, feliz. E, se alguém por ventura viesse a gostar de meus pequenos pedacinhos de ‘arte’, sentiria-me mais que honrada em poder compartilhá-los.

Se eu pudesse, seria feliz desenhando. Sem me preocupar com nada, apenas desenhando.

Se eu pudesse, passaria minha vida desenhando.


...Mas não posso.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Meu Ideal Seria Escrever.

Meu ideal seria escrever uma história que fizesse com que todos se sentissem bem. Uma história tão doce, tão suave que até mesmo aquele senhor mal-encarado do primeiro andar do meu prédio, quando lesse, sentisse algo quentinho no peito e inconscientemente sorrisse.

E então, ele contaria para seus netinhos, que contariam para os amiguinhos e a professora na escola; e ela diria “nossa, que história mais bonitinha!”

E aí quem sabe a história se espalhasse bem devagarzinho e, depois de um certo tempo, talvez várias pessoas a conhecessem. E quem viesse a conhecê-la, não importando o humor ou a circunstância, abriria um sorriso verdadeiro, daqueles que são tão raros nos dias de hoje.

Pensando melhor, nem precisa ser tudo isso. Poderia ser uma história simples, bem curtinha e fácil de ser recontada; mas que fosse repleta de significado, onde cada palavra carregasse um pouquinho de ternura. Uma história parecida com aquelas de livros infantis, com alguma lição de vida escondidinha nas entrelinhas, daquelas que todo adulto já conhece – e que provavelmente já esqueceu também. Uma história daquelas que tocam bem lá no fundo, que fazem a gente fechar os olhos, colocar a mão no coração e pensar.

Meu ideal seria escrever uma história, um parágrafo, uma frase, que de tão bobinha, de tão inocente e doce, pudesse talvez trazer um pouquinho de alegria à vida de alguém. Aquele senhor mal-encarado do primeiro andar do meu prédio, por exemplo.