quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Ele se inclinou em reverência e, beijando-lhe a mão, disse:

"E então, pequenina," o sorriso apático e fascinante deformava a lágrima tatuada em seu rosto, "Que queres tu que eu seja?"

A garota fitou-o com olhos de vidro, ainda estranhamente atraída pelo rapaz e seu sorriso e sua lágrima. "Eu quero," começou após fração ou outra de segundo, "que seja feliz, meu anjo." Sorriu, e seu sorriso era suave, honesto. "Acima de tudo, anseio por sua felicidade."

O sorriso do rapaz desfez-se, e por um momento seus olhos mostraram espanto. Sua face moldou-se então numa outra de decepção contida.

"Ah, minha pequena dama," ajoelhou-se perante ela, a lágrima em seu rosto agora parecia maior, "Por que foste desejar tal coisa, de tantas outras que poderias possuir em tão poucos segundos?"

Um sorriso triste.

O rapaz se levantou. "Tal, pequenina, é o único desejo que temo não poder conferir-te, pois minha felicidade já há tempos me foi roubada. Foi-se junto de minhas asas, junto de meu amor e, agora, neste coração que insisto em guardar em meu peito, restam-me apenas memórias da alegria que já tanto senti."

Os olhos de vidro refletiam o jovem com brilho repleto de compaixão, e ele parou por um instante. Um novo sorriso, então, formou-se em seus lábios.

"Ah," começou, "mas presumo poder mandar-te, talvez, a um lugar onde minha felicidade possa ainda ser possível."

"Um lugar onde sua felicidade é possível?"

"Exato, pequena dama." Seu sorriso aumentou de tamanho, "O que achas?Agrada-te a ideia?" Ela assentiu, um resquício de entusiasmo brotando em seu olhar, e ele assentiu em resposta.

"Muito bem."

Um gesto, e havia em suas mãos um espelho. A menina encarou o então sorridente rapaz, voltando-se depois para o objeto em suas mãos, confusa.

Súbito, o escuro a envolveu.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Alguém.

Alguém, tire-me daqui.

Eu imploro, alguém, alguém tire-me daqui.

Não aguento mais. Estou enlouquecendo, alucinando, há algo dentro de mim que não para de crescer, algo negativo, algo ruim--

Uma bolha. Sim, uma bolha de mau-agouro, uma bolha de podridão, de negatividade, de desespero, angústia. Uma bolha de "mau"s e "mal"s, uma aberração.

E ela não para de crescer, não para, cresce sem parar. Sinto que vai explodir logo, que tudo vai explodir logo, que eu vou explodir logo. A neura me consome, a paranóia me persegue, a escuridão na minha frente se alastra e o desespero está se integrando a mim; posso senti-lo, tocá-lo, já quase o tenho como parte de meu ser.

Por isso imploro: alguém, alguém me salve, tire-me daqui, desse mar de atrocidades, desse festival de horrores do qual já estou tão farta.

Eu imploro,

Alguém, tire-me daqui.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

So what?

Estou naquela fase da vida sobre a qual todo mundo que já passou adora criticar, de um jeito ou de outro. Dizem que somos imaturos, fúteis, infames. Olham de canto de olho para nós e murmuram com os lábios semi-abertos algumas palavras que eles próprios considerariam ofensivas, xingamentos, se fossem dirigidas a eles. Internamente, apontam o dedo em nossa direção e nos acusam, exclamando de forma dramática o quão mimados e irritantes e sem-futuro nós somos.

Outros gostam de brincar, fazer piada. Viram-se para nós e começam a rir com os olhos, discreta mas sarcasticamente em deboche, e nós nunca ficamos sabendo o porquê. Afagam nossas cabeças, dizendo que ainda somos crianças se tentamos agir com mais maturidade, e no entanto encaram-nos com os olhos estreitos se agimos de forma muito "infantil".

Estou naquela fase da vida em que as pessoas buscam por uma identidade só delas. Buscam incansavelmente, dispostas a qualquer coisa para se encontrar e reafirmar como pessoas, indivíduos. Seguem além dos limites na tentativa de serem diferentes de tudo e de todos, mas acabam ficando iguais a todo mundo exatamente por tentar o contrário.

E não importa o que eu faça, que caminho decida seguir na tentativa de agradar a todos, há sempre aquele "estraga-prazeres" que vem e me tacha, me critica, me xinga. Que fala sobre como eu sou infantil e infame e fútil, apesar de nem saber o significado dos nomes que me atribui. E eu, com a idade que tenho, não posso sequer reagir, retorquir; sou imatura demais para isso.

Pois cá estou eu: jogo minhas mãos para o ar, fecho meus ouvidos e olhos para as coisas que gostam tanto de falar sobre mim. Cansei. É inútil tentar agradar a todos, e chegará o dia em que eu também poderei criticar aqueles que estiverem passando pelo que eu passo hoje.

Que digam o que quiserem; não estou mais nem aí.

sábado, 10 de outubro de 2009

Alguém, tire-me daqui.




Duas escolhas: o Fim do Mundo ou Pasárgada - quem me acompanha?