segunda-feira, 25 de abril de 2011

Pós-feriado.

Segunda-feira, 5:30AM. Você é acordado por seu despertador, que por alguma razão parece mais barulhento e irritante que o normal. Demora um pouco mais que o de costume para sair da cama; você se acostumou a ir se deitar às duas da manhã nos últimos dias e, portanto, não conseguiu dormir antes disso no dia anterior. E além do mais, o que são 5 minutos?

Dirige-se ao banheiro, lava o rosto e, olhando-se no espelho, não consegue deixar de reparar nas olheiras profundas que se formaram sob seus olhos. Nota que aparenta estar mais cansado do que antes dos dias de folga e, por um momento, pergunta-se por quê. Mas é uma questão de segundos até que você desista de pensar, percebendo que não, seu cérebro não é no momento capaz de processar qualquer coisa que não as palavras "sono" e "café".

Você então volta para o seu quarto, dá uma espiadinha pela janela para fazer uma rápida - e, como sempre, equivocada - previsão pessoal do tempo e se põe a escolher as roupas a serem usadas no dia.

Você toma seu café, come alguma coisinha e, antes de voltar ao banheiro para escovar os dentes, olha o relógio.

Você está atrasado.

Você escova os dentes correndo, coloca tudo o que lembra na mochila e sai de casa sem perceber que está chovendo. E que você esqueceu o guarda-chuva.

Suas primeiras palavras do dia:

"Bom dia, mundo. Eu te odeio."

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Talvez já faça um certo tempo.

Não sei dizer ao certo desde quando parei de esperar por seus telefonemas.

Aqueles dias me parecem já tão longínquos, mas por alguma razão a impressão que tenho é a de que não faz tanto tempo assim. Antes, costumava achar desconfortável não ter você por perto toda hora, tinha a sensação de ter uma parte minha faltando. E aparentemente é isso mesmo, é normal sentir isso quando se tem uma ligação como a nossa. Será? Não sei.

Não sei dizer ao certo desde quando parei de me sentir assim.

Ou será que não parei? Nesses últimos dias, tenho sentido um vazio enorme em meu peito. Será que é o espaço que você costumava preencher? Não sei.

Não sei dizer ao certo desde quando você começou a mudar.

Ou será que fui eu quem mudou? Talvez eu esteja enganado e, em vez de estar sendo deixado para trás, seja eu quem o está fazendo. Perdoe-me se for este o caso, perdoe-me. Mas será que sou eu, mesmo? Eu não tenho a intenção de mudar. Nunca tive a intenção de mudar, então sempre cuidei para que isso não acontecesse. E então vejo o mundo ao meu redor mudando constantemente, e você, como parte desse mundo, muda também.

Mundo. Um dia, você já foi parte do meu mundo. Não do mundo externo a mim, mas do meu pequeno e imperfeito mundo.

Não sei dizer ao certo desde quando você o deixou.

E agora você parece tão mais feliz, tão mais cheio de vida, que eu não consigo nem pensar em puxá-lo novamente para esse mundo. Não há razão para fazer isso. Tudo o que sempre desejei foi a sua felicidade, o que eu posso fazer se ela independe totalmente de mim? O que fazer se, desde o começo, ela existia sem mim?

Não sei dizer ao certo desde quando parei de esperar por seus telefonemas.

Não sei dizer ao certo desde quando deixei de esperar por você.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Passara-se um certo tempo desde que aqueles sentimentos haviam começado a atormentá-la. Ela olhava para os quadros, ouvia o professor de "Artes Visuais" - que nada mais era do que um professor de História da Arte, mas daquelas bem superficiais, mais até que a matéria dada no colégio - falar sobre coisas que ela já sabia, via seus colegas suspirarem fascinados por coisas que para ela já eram comuns, e suspirava também. Em decepção.

Em sua mente, ela via vídeos de seu sonho inúmeras vezes em loop. Nos vídeos, ela esculpia, moldava, pintava. Sujava-se com tinta e massa acrílica. Fotografava o mundo ao seu redor, tinha aulas longas e aprofundadas sobre seus artistas preferidos(e aqueles com os quais não se identificava muito também, mas o que é um pequeno sacrifício em meio a tanta beleza?) e seus trabalhos poderiam levar meses para serem concluídos. Mas mesmo assim, ela se sentia completa ao terminá-los. Talvez não ficasse completamente satisfeita com eles, mas sentia-se bem ao concluí-os. Sentia que ela estava dentro de cada um daqueles trabalhos. E se sentia completa.

Mas de repente o vídeo era interrompido por alguém, e ela, puxada novamente para a realidade. Nela não havia quadros, não havia esculturas, tintas ou massa. Havia em seu lugar textos, livros, programas complexos de computador e muitas coisas para escrever, muitas coisas pelas quais ela não se interessava para aprender, e ela suspirava. Gostava de livros, divertia-se revisando textos, mas não era aquela a realidade na qual queria viver. Sabia disso.

Sabia também que ainda não era tarde, que ela poderia mudar, se quisesse. Mas isso significaria ter jogado um ano inteiro fora e ela teria de concorrer novamente a algo que já certa vez conseguira e descartara.

Sabia que ainda não era tarde, mas tinha certeza de que, se jogasse tudo ao ar naquele momento, se arrependeria. E o medo não a deixou correr atrás de seu sonho mais uma vez.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Um dia.

Um dia, já fomos sorriso.

Um dia já andamos de mãos dadas, e assim encaramos o mundo. Dois eram Um, e estávamos contentes assim. Não havia nada de errado, não havia nada a temer.

Um dia, a apreensão não teve lugar para entrar.

Não entre nós; não, não, porque estávamos juntos. Éramos um, e como um desafiávamos qualquer coisa que tentasse invadir o nosso espaço.

Mas hoje é diferente; hoje não somos mais um. Hoje há lugar para o medo, pois não existe mais o nosso espaço. Não existe mais o Nós. Hoje, existem apenas Eu e Você. E o mundo.

Um dia, já fomos sorriso. Hoje, separado de você, sou apatia.

E, de repente, o mundo parece grande demais.