quarta-feira, 23 de setembro de 2009

E eu sorrio.

Sorria; uma das atitudes que a sociedade mais deseja - e cobra - de nós. Sorria; é o que lemos em placas, propagandas, artigos em revistas e até em e-mails e sites com mensagens praticantes da "filosofia de bairro", simples, profundas e belas. É o que ouvimos nos programas de televisão, em mensagens nas entre-partes da programação das rádios, em nosso dia-a-dia. É o que ouvimos como conselhos, como ordens, como recomendações ou simples sugestões.Sorria.

E eu sorrio. Sorrio, porque sorrir é o que faço, escondendo-me e protegendo-me por trás de uma máscara aperfeiçoada - apesar de ainda imperfeita - ao longo dos anos de minha existência. Sorrio, porque é fácil fingir que está tudo bem, que o caos do mundo e da humanidade são irrelevantes, que a vida é a melhor que eu jamais desejei, que obstáculos não são senão pedras, pequeninas pedras; pequeninas e leves e inúteis e insignificantes. E que, de verdade, está tudo bem.

Mas como tudo o que fica exposto, as máscaras, os sorrisos uma hora se sujam, se mancham, encobertos pela poeira e poluição da vida cotidiana. E, assim como tudo o que fica exposto, às vezes é necessário limpá-los, esses sorrisos, essas máscaras; limpá-los, lavá-los, poli-los.

E é nesse momento, no momento em que retiramos nosso sorriso para limpá-lo, que o bombardeio começa. "O que aconteceu?", "Você está bem?", "Não quer desabafar?", "Solte tudo para fora, talvez você se sinta melhor!", "Assim você me preocupa!"; perguntas sem importância, atordoantes e irritantes, inquietantes, constrangedoras, vindas de pessoas aparentemente preocupadas conosco, mas quem garante que não estão na verdade perguntando apenas para poder depois comentar com outros a nosso respeito?

E minha mente grita; grita, se descabela, praticamente enlouquece. Não é da sua conta, ela diz, exclama, vocês não têm o direito de me invadir, de penetrar em minha consciência desse jeito, não têm, não têm, não-

Ela ri histérica. Eu recoloco a máscara ainda cheia de sabão e sujeira e espuma: "Não é nada, está tudo bem."

...

Um.Dois.

Dois dias, e tudo está de volta ao normal. Dois dias são suficientes para lavar e secar a máscara e tê-la novamente presa, fixa a meu rosto, sã e salva, mais brilhante do que nunca.

Minha mente está contente, satisfeita, protegida do resto do mundo em seu canto, com suas preocupações e aflições e problemas e pedaços de caos.

À minha volta, as placas, a tv, as rádios, as mensagens na internet ainda exclamam: "Sorria!".

E eu sorrio.

domingo, 13 de setembro de 2009

Desculpas.

Desculpe-me.
Desculpe-me por não entender tudo o que diz
por não pensar como você pensa
por não fazer o que você quis
Desculpe-me por não ser um gênio das Matemáticas
por não compreender fórmulas ou criar táticas
por não desejar a mim o seu jeito de ser 'feliz'
Desculpe-me por não encontrar modos
de andar reto pelos caminhos tortos
da vida que para mim fiz
Desculpe-me se minhas escolhas estão erradas
se tenho já minhas janelas fechadas
para um futuro nesse país
Desculpe-me por demorar para entender seu raciocínio
por não poder compartilhar o seu fascínio
por coisas que jamais me interessaram
por coisas que jamais me afetaram
por coisas sem importância para mim

Desculpe-me.
Desculpe-me por ser tudo o que sou
com minhas falhas e imperfeições
com meus receios e aflições
com meu medo e minhas emoções
que de nada lhe servem

Desculpe-me por existir como existo
por ser incapaz de fazer escolhas
pensando em coisas sobre as quais
sinto-me ainda imatura demais para pensar
Por não conseguir me afastar das folhas
dos lápis dos pincéis e das cores
que me envolvem e induzem a arremessar
tintas e massas e linhas e formas
sobre telas e outras tantas
superfícies ao me expressar

Desculpe-me se tudo o que tenho
agora são versos livres
brancos e imperfeitos e simples
que refletem aquilo que sou
que penso que sinto e que não falo
mas que me assombram e atormentam
querendo escapar quando me calo
ouvindo o tanto de asneiras
sobre mim e que não interessam a mim

Porque você pode querer ditar regras
pode querer traçar metas
e até em minha vida intervir
Mas de que adiantará tal besteira
se o que de fato importa no fim
cabe única e inteiramente a mim?
E saiba que a mim não importam
fórmulas e táticas e janelas fechadas
desde que tenha em minhas mãos falhas
folhas e lápis e cores e formas
que me permitam mostrar mais que fachadas
que me permitam retirar minhas máscaras
que me permitam ser quem eu sou

Com minhas falhas e imperfeições
Com meus receios e aflições
Com meu medo e minhas emoções

Desculpe-me se não lhe agrado
mas saiba que não pretendo mudar
se pensa em me convencer ouça antes
o conselho que vou lhe dar
não perca de sua vida os instantes
que podem vir a ser importantes
ao tempo que lhe há de faltar
mas se mesmo assim insistir
em querer mudar minha essência
Desculpe-me
mas tamanha demência
de nada adiantará
uma vez que mudar os outros
não é senão um mero sonho
uma utópica ilusão
criada pela mente humana
e que um dia acabará.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

As Cores Da Cidade.

Quando se anda todos os dias pelas ruas de uma cidade grande, uma metrópole, para ir ao trabalho ou à escola, é praticamente natural não prestar atenção à nossa volta. O tempo é muitas vezes - ou todas, para a grande maioria - escasso, e andar observando o que nos cerca parece pura perda de tempo.

Pois quando em vez disponho-me a perder um pouco de tempo e, há uns dias, uns poucos dias, o fiz. Andei lentamente, sem maiores preocupações(exceto aquela constante, latente, de ser abordada e assaltada - ou até sequestrada, Deus que me livre! - no meio da rua e em plena luz do dia), olhando a cidade ao meu redor. E ao fazê-lo, fui tomada por uma mescla de sentimentos, variados e porém convergentes, que sintetizaram-se em uma exclamação única que fiz a mim mesma.

...Que nojo.

Aqueles que dizem que a cidade de São Paulo(grande São Paulo!) é cinza deviam repensar seu argumento. A cidade é composta por cinza, sim, mas também tem muitas outras cores; o branco das tantas folhas de papel e cigarros, o rosa e verde e vermelho e azul das gomas-de-mascar já mascadas, as cores dos rótulos de garrafas "pet" - e das próprias garrafas -, excrementos de cães e gatos e outros animais(até mesmo de gente), embalagens de salgadinhos e doces e brinquedos e materiais escolares e qualquer outro elemento-não-identificado que enfeita suas calçadas, ruas, avenidas, parques e jardins. Também há as mais diversas cores nos muros pichados, nas construções velhas e negligenciadas, manchadas de cinza e preto pela fumaça e sujeira em geral. Ah sim, há também os carros; os milhões - bilhões, até? - de carros que provocam um caos diário e básico no dia-a-dia dos cidadãos.

E é claro que não podemos esquecer, também, da grande contribuição daquelas pessoas que, além de jogar todas essas cores nas ruas da cidade, ainda cospem nelas enquanto andam. Tudo contribui para deixar a cidade mais bela e atraente, um perfeito e aconchegante lar para todos os paulistanos, estou certa.

Não pense você que me esqueço ou ignoro as construções tão belas e os tantos "cartões postais" da cidade, pois certamente não o faço. Já visitei muitos deles - visito alguns com certa frequência, pelo simples prazer de visitá-los -, e admiro sua beleza, sim. Mas adivinhe: seus arredores também estão adornados com as Cores da Cidade.

...Sinceramente. Quando vejo as pessoas jogando coisas no chão ou - argh - cuspindo, começo a imaginar o que elas fazem em casa. Tenho vontade de vomitar só de pensar. Porque, se em lugares públicos, onde estão constantemente sujeitos à crítica alheia, são capazes de cometer tais atos, o que não devem fazer na privacidade de suas casas? Também tenho náuseas ao pensar que várias dessas pessoas - posso até dizer com certa certeza de que são a grande maioria, com dados do IBGE para me apoiar - são aquelas que constantemente dizem às crianças que "não se deve jogar lixo na rua" várias vezes ao dia, quase mecanicamente. E com que moral dizem isso? Será que não entendem que bons exemplos são a melhor forma de instruir uma criança e fazê-la entender?

Ouço com certa frequência as pessoas reclamando da sujeira e da poluição e das inundações que ocorrem quando chove bastante, e penso no quão ignorantes são. Você que reclama e joga lixo na rua, perdoe-me, mas não tem motivo - ou mesmo direito - algum para reclamar. "Jogo porque outros o fazem, eu sozinho não vou mudar a situação da cidade", você diz? Pois já parou para pensar que "outras pessoas podem estar jogando porque você joga"? E afinal, mesmo que você sozinho não possa mudar a situação de uma cidade inteira, para que infernos contribuir para agravar o problema? Que tipo de lógica é essa? A única conclusão a que posso chegar a partir dela é a de que a ignorância humana com certeza supera limites. Será que não percebem que esta cidade é sua casa? E não só sua, mas de milhares, milhões de outras pessoas? Se gosta de sua casa suja e porca, problema seu. Mas não se esqueça de que esta grande, enorme casa não é só sua, e que portanto existem algumas "regras não-ditadas" - vulgo, bom senso - a serem cumpridas.

Nesse dia em que me propuz a "perder tempo" e observei com calma as Cores da Cidade, pensei em como os "garis" deviam ser mais respeitados. A profissão deles é extremamente digna! A população despreza e faz pouco caso, mas se não fosse por eles, provavelmente já teríamos nos afogado no Mar da Podridão. Pensei também que, já que o Governo está nessa onda de "sancionamento de leis 'multáveis'" - a lei do fumo, a lei da bebida(cujo nome me escapa no momento) -, devia aproveitar e criar uma nova: Multa(mais alta do que as aplicadas nas leis há pouco mencionadas) para quem joga lixo na rua. Sei que já é proibido, mas parece que não estão nem aí. Mas talvez pressionando um pouquinho mais, o pessoal dessa cidade deixe de ser tão porco.

E tenho dito. Unf.





...Quando comecei a escrever isso, pensava em escrever uma crônica ou algo do tipo, mas acabei escrevendo um simples rant. ...D: *falha*