sexta-feira, 7 de maio de 2010

E ela via aqueles sorrisos, ouvia as histórias, sorria enquanto tentava imaginar as situações que lhe eram contadas. Mas era difícil, eram situações desconhecidas, mundos diferentes, realidades estranhas para aquela cujo tempo parara. Ela se esforçava, mas seu esforço parecia vão: as pessoas que comentavam animadas sobre suas novidades(um dia tão próximas dela, vivendo a mesma realidade que ela. Bons tempos aqueles; que saudade, que saudade...) haviam mudado demais, crescido demais. Falavam sobre os caminhos que haviam aberto - elas mesmas! - e que no momento trilhavam, com termos que ela sequer ouvira falar e palavras e lugares restritos àquele mundo, o mundo delas, do qual ela não fazia parte. E ela sorria, orgulhosa das amigas e contente em vê-las tão bem depois de tanto tempo, em vê-las felizes com as escolhas que haviam feito e com as realidades que haviam criado e na qual viviam, realidades das quais ela não fazia parte porque ela não tinha aberto a porta que elas abriram.

...Ah.

Que medo.

Ela também tinha que abrir a porta um dia, logo, muito em breve, mas...mas que medo. Que medo de ela tentar e a porta estar fechada de novo, trancada, selada e sem jeito ou previsão para abrir. Que medo de tentar a sorte, de tentar dar um passo à diante - o passo que as pessoas da realidade estranha haviam dado - e não conseguir. Que medo de tropeçar antes de terminar de dar o passo e cair, cair e se machucar e acabar desistindo. Que medo.

Mas ela fechou os olhos, guardou o medo e a aflição numa caixinha(para quando ela estivesse só em seu quarto fitando o teto no breu antes de dormir) e seguiu admirando os sorrisos, ouvindo as histórias e sorrindo de volta enquanto tentava imaginar as situações que lhe eram propostas, situações tão misteriosas e inimagináveis para ela.